4 de agosto de 2014

O Dia do Curinga- Jostein Gaarder

Seguindo a mesma linha de pensamento de O Mundo de Sofia, esse livro aborda questões filosóficas através do menino Hans-Thomas, que, junto com seu pai vai à Grécia a procura de sua mãe que os deixou à oito anos, em busca de encontrar a si mesma. Durante a viagem, Hans descobre muitas coisas sobre sua vida e a de seus antepassados, através de um pequeno e misterioso livro que ganha de um padeiro.

   "Vivemos nossas vidas num incrível mundo de aventuras, pensei. Apesar disso, a grande maioria das pessoas considera tudo isso "normal". Em compensação, vivem em busca de algo fora do normal: anjos ou então marcianos. E isso se explica pelo simples fato de que elas não consideram um enigma o mundo em que vivem. Para mim a coisa era completamente diferente. Para mim, o mundo era um sonho muito estranho, e eu vivia em busca de uma explicação racional qualquer para esse sonho.
   E enquanto fiquei parado ali, observando o céu ir mudando de cor, primeiro cada vez mais vermelho e depois cada vez mais claro, experimentei uma coisa que jamais havia experimentado antes; um sentimento que desde então nunca mais me deixou: lá estava eu na frente da janela da cabine de um navio, eu, um ser enigmático, vivo, mas que apesar disso nada sabia de si. Experimentei a sensação de ser uma criatura viva num planeta vivo dentro de uma Via Láctea. Talvez já tivesse consciência disso antes, pois esse era um tema que já tinha sido abordado várias vezes dentro da educação que eu vinha recebendo. Mas aquela era a primeira vez que eu sentia aquilo tudo por mim mesmo. E aquele sentimento se instalou em cada célula do meu corpo.
   Percebi o meu corpo como algo estranho, desconhecido. Como era possível que eu estivesse ali, na cabine de um navio, pensando todas aquelas coisas estranhas? Como é que no meu corpo cresciam a pele e as unhas? Tudo isso para não falar dos dentes! Como era possível que esmalte e marfim pudessem crescer dentro da minha boca? Eu não conseguia entender que essas partes duras do meu corpo eram eu mesmo. Mas sobre essas coisas... bem, sobre essas coisas as pessoas só pensavam quando tinham de ir ao dentista!
Não conseguia entender como as pessoas conseguiam viver neste mundo sem se perguntarem, ao menos de vez em quando, quem era e de onde tinham vindo. Como era possível fechar os olhos à vida neste planeta, ou então considerá-la "evidente"?
   Os muitos pensamentos e sentimentos que tomaram conta de mim naquele momento deixavam-me alegre e triste ao mesmo tempo. Eles eram os grandes culpados por eu experimentar de repente uma sensação de solidão profunda; ao mesmo tempo, de alguma forma eu sabia que aquela solidão só podia me fazer bem.
   Apesar de tudo, fiquei contente ao ouvir meu pai se espreguiçar e soltar um daqueles bocejos que mais parecem um rugido de leão. Antes de ele saltar da cama, ainda tive tempo de refletir um pouco sobre como é importante ter os olhos bem abertos para tudo,  masque não existe nada mais importante do que estar na companhia de alguém que a gente ama." (Página 164)

Estou lendo O Vendedor de Sonhos.

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