7 de novembro de 2014

CAPITULO 5
                                   
                Enquanto Julieta ia para casa de bicicleta o estranho foi na mesma direção, mas de a pé. Ela pensa em parar em algum lugar estratégico, se esconder e esperar por ele, para descobrir onde ele realmente mora. Mas, após alguns instantes parada a espera de que ele apareça em seu campo de visão, ela se cansa e segue caminho até em casa.
                Julieta liga para Gina e esclarece que irá para sua casa, apesar de ainda estar dormindo na casa de sua amiga. Acontece que ela não pretende revelar, ainda, que irá se encontrar com o suspeito, e dessa forma, precisará de privacidade para colocar a cabeça no lugar para encarar o que está por vir.
                Na verdade, Julieta não faz ideia do que está por vir, pois o que poderia acontecer afinal de contas? De qualquer forma, ela insiste em acabar com os joguinhos idiotas em que ela foi apenas um brinquedo, e para isso, ela realmente precisará encarar esse jantar.
                Chegando em sua própria casa, Julieta sente um aperto no coração, pois  as lembranças vem a tona, e transbordam seus pensamentos distraindo-a completamente, por um tempo, de seu objetivo. Afinal, após uma breve paralisia, ela volta a si mesma, e entra em casa indo diretamente para seu quarto sem nem mesmo olhar ao redor.
                Rapidamente, Julieta toma um banho e veste-se. Quando está quase pronta, alguém bate em sua porta.
- Só um minuto! – Julieta grita correndo para a porta.
                E para surpresa de Julieta quem está na porta é o carteiro, seu antigo carteiro.
                - Josias, o que foi que aconteceu contigo que parou de entregar minhas cartas? – Julieta pergunta após uma breve saudação.
- Oh, Julieta, me desculpe, mas telefonaram-me para que eu fosse ver minha sobrinha que estava no hospital na cidade de Kansas, mas acho que foi engano. De qualquer forma, como já havia pegado minha folga, aproveitei-a e fui mesmo ver meus parentes. – O carteiro responde. Julieta compreende que o “novo carteiro” enganou-o muito bem.
- Fico feliz que tenha voltado, o novo carteiro não é nada como o senhor, muito mal encarado, conhece-o? – Julieta pergunta, pretendendo confirmar sua suposição.
- Não cheguei a conhecê-lo, mas você não é a única a reclamar da maneira dele. De qualquer forma, ele não irá mais trabalhar nesse ramo. Talvez entregador de jornal, mas não cartas. Enfim, preciso seguir em frente. Até mais, e se cuide.
Julieta acompanha-o até um pedaço e despede-se dele, desejando-lhe um ótimo dia, e agradecendo por ter retornado.
Com esse novo pressentimento, de que as coisas talvez voltem em seus eixos, Julieta senta na varanda de sua casa, aproveitando a brisa boa que sopra da floresta, agora sem incêndio, e espera por “seu estranho”. 
Quando ela pensa em ir para dentro de casa, pois começa a ficar frio, ela avista um carro prateado fazendo a curva para a rua de sua casa. Ela espera um instante, até confirmar ser ele realmente, tranca a porta de casa e entra no carro, já estacionado ao lado do lago.
Após um breve silêncio enquanto o carro dá a partida, o estranho tenta melhorar o clima entre eles:
- Você está muito linda Julieta, obrigado por aceitar meu convite.
- Hm... – Julieta não sabe como começar suas perguntas, pois são tantas.
- Não via a hora de me apresentar a você, pois acho que a hora chegou, não é? – O estranho passa a mão nos cabelos ainda úmidos. – Bem, eu me chamo Charlie, e eu costumava ser o melhor amigo de seu pai. Também o de sua mãe. Mas, principalmente, o seu melhor amigo.
Julieta demora até entender o significado de suas palavras e se sobressalta com tal declaração:
- O quê? Nunca vi-o antes desse ano, como pode dizer uma coisa dessas? – Julieta começa a se irritar novamente, pois esperava que o estranho, supostamente chamado Charlie, fosse mais claro.
- Bem, serei direto para que entenda. Houve um tempo, há alguns anos atrás, em que fui declarado seu irmão, mas adotado, não se assuste, por favor. Acontece que isso não foi coincidência, havia um objetivo em eu ser adotado. Quero dizer, um objetivo em me manter perto de sua família. – Charlie gesticula com suas mãos, tentando fazer com que Julieta entenda.
- Espera! Eu não vim até aqui para você me confundir mais ainda. O que isso esclarece toda a confusão que você causou até agora? – Julieta se exaspera.
                - Calma, estou tentando contar a história desde o início. É complicado, por favor... – Charlie não sabe o que dizer para fazer com que ela lhe escute. - Vamos fazer assim, posso contar toda a história e só depois você faz suas perguntas? Está bem?
                - Então comece logo!
                - Tudo começou quando seu pai me procurou em 5 de novembro 1997. Eu tinha 10 na época, mas era considerado um prodígio, e por isso, participava de vários experimentos e cooperava com novos descobrimentos científicos. Como você sabe, seu pai era muito sigiloso em seu trabalho, e com razão. Ele estava muito nervoso, naquele 5 de novembro, acho que, finalmente, ele havia descoberto algo extraordinário, mas que colocaria todos nós em graves problemas. Ele havia pedido para que eu fosse com ele até sua casa, e que precisava de um grande favor. Quando eu indagava-o em busca de informações do que se tratava todo esse mistério, ele respondia com evasivas, como se tivesse medo de revelar a verdade. Por fim, aceitei em vir até sua casa. Você e sua mãe estavam no jardim plantando pequenas mudas de alguma planta. Você tinha 4 anos e estava uma sujeira. – Charlie olha para Julieta com um sorriso debochado, e vê que ela está longe dali, em uma data e local diferentes.
- Bem, acontece que seu pai apresentou-me para vocês naquele mesmo dia, e mais tarde, quando finalmente ficamos em uma sala reservada, ele explicou-me que pretendia me adotar para proteção de sua família, caso eu concordasse. Eu insisti veementemente para que ele deixasse-me a par de tudo o que estava por trás dessa proposta de adoção, lembro-me de hesitar por um longo tempo, com medo por não saber onde estava me metendo. Mas, por fim, ele me revelou a verdade, e disse-me para guarda-la apenas para mim: “não se esqueça, Charlie, do que as pessoas são capazes de fazer para que a verdade não se espalhe!” Foi o que ele disse antes de sairmos da sala e irmos jantar.  – Charlie reduz a velocidade do carro, e espera o semáforo, enquanto Julieta, repentinamente tenta lembrar-se de suas próprias lembranças.
- Não lembro-me muito bem, não consigo lembrar-me de ti. Mas, apesar disso, já escutei essa frase antes, meu pai costuma me alertar sobre o valor da verdade, tenho a impressão que ele disse exatamente da forma como você disse agora. – Julieta, de repente lembra-se de outra coisa: - Hei! Você... você é o cara da foto não é mesmo? Aquela foto em que estou na sacada da casa de minha avó segurando a mão de alguém, mas a foto está rasgada, não dando para reconhecê-lo.  – Charlie faz uma afirmativa com a cabeça enquanto acelera o carro, e Julieta fica absorta por um tempo em seus próprios pensamentos.
- Agora faz sentido. – Julieta olha para ele de forma estranha- Só se você realmente fizesse parte da minha infância para ter aquela gravação de mim e minha mãe cantando Hey Jude. Mas como posso não lembrar-me de ti? Além disso, preciso pedir, mas por que fez tudo o que fez comigo até agora, se você era alguém de valor para mim? Porque invadiu minha casa? Porque pôs fogo na floresta? Porque arranhou meu carro? Pois foi você não foi?– Julieta pergunta nervosa e embaraçada.
Charlie fica quieto por um longo tempo, refletindo, e Julieta espera pacientemente por mais explicações. O carro é estacionado, e Julieta vê pela janela a porta de algum restaurante desconhecido. Antes de qualquer movimento, Charlie tira uma carta do bolso de sua jaqueta e entrega-a em silêncio para Julieta.
- Esta é a carta perdida. Tive medo que os policiais a lessem, foi um deslize meu deixar que eles encontrassem ela, pois era destinada à você, e apenas você deve lê-la, após isso, peço que a queime. 

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