CAPITULO 5
Enquanto Julieta ia para casa de bicicleta o
estranho foi na mesma direção, mas de a pé. Ela pensa em parar em algum lugar
estratégico, se esconder e esperar por ele, para descobrir onde ele realmente
mora. Mas, após alguns instantes parada a espera de que ele apareça em seu
campo de visão, ela se cansa e segue caminho até em casa.
Julieta liga para
Gina e esclarece que irá para sua casa, apesar de ainda estar dormindo na casa
de sua amiga. Acontece que ela não pretende revelar, ainda, que irá se
encontrar com o suspeito, e dessa forma, precisará de privacidade para colocar
a cabeça no lugar para encarar o que está por vir.
Na verdade, Julieta
não faz ideia do que está por vir, pois o que poderia acontecer afinal de
contas? De qualquer forma, ela insiste em acabar com os joguinhos idiotas em
que ela foi apenas um brinquedo, e para isso, ela realmente precisará encarar
esse jantar.
Chegando em sua
própria casa, Julieta sente um aperto no coração, pois as lembranças vem a tona, e transbordam seus
pensamentos distraindo-a completamente, por um tempo, de seu objetivo. Afinal,
após uma breve paralisia, ela volta a si mesma, e entra em casa indo
diretamente para seu quarto sem nem mesmo olhar ao redor.
Rapidamente,
Julieta toma um banho e veste-se. Quando está quase pronta, alguém bate em sua
porta.
- Só um minuto! – Julieta grita correndo para a
porta.
E para surpresa de
Julieta quem está na porta é o carteiro, seu antigo carteiro.
-
Josias, o que foi que aconteceu contigo que parou de entregar minhas cartas? –
Julieta pergunta após uma breve saudação.
- Oh, Julieta, me desculpe, mas telefonaram-me
para que eu fosse ver minha sobrinha que estava no hospital na cidade de Kansas,
mas acho que foi engano. De qualquer forma, como já havia pegado minha folga,
aproveitei-a e fui mesmo ver meus parentes. – O carteiro responde. Julieta compreende
que o “novo carteiro” enganou-o muito bem.
- Fico feliz que tenha voltado, o novo carteiro
não é nada como o senhor, muito mal encarado, conhece-o? – Julieta pergunta,
pretendendo confirmar sua suposição.
- Não cheguei a conhecê-lo, mas você não é a
única a reclamar da maneira dele. De qualquer forma, ele não irá mais trabalhar
nesse ramo. Talvez entregador de jornal, mas não cartas. Enfim, preciso seguir
em frente. Até mais, e se cuide.
Julieta acompanha-o até um pedaço e despede-se
dele, desejando-lhe um ótimo dia, e agradecendo por ter retornado.
Com esse novo pressentimento, de que as coisas
talvez voltem em seus eixos, Julieta senta na varanda de sua casa, aproveitando
a brisa boa que sopra da floresta, agora sem incêndio, e espera por “seu estranho”.
Quando ela pensa em ir para dentro de casa, pois
começa a ficar frio, ela avista um carro prateado fazendo a curva para a rua de
sua casa. Ela espera um instante, até confirmar ser ele realmente, tranca a
porta de casa e entra no carro, já estacionado ao lado do lago.
Após um breve silêncio enquanto o carro dá a
partida, o estranho tenta melhorar o clima entre eles:
- Você está muito linda Julieta, obrigado por
aceitar meu convite.
- Hm... – Julieta não sabe como começar suas
perguntas, pois são tantas.
- Não via a hora de me apresentar a você, pois
acho que a hora chegou, não é? – O estranho passa a mão nos cabelos ainda
úmidos. – Bem, eu me chamo Charlie, e eu costumava ser o melhor amigo de seu
pai. Também o de sua mãe. Mas, principalmente, o seu melhor amigo.
Julieta demora até entender o significado de
suas palavras e se sobressalta com tal declaração:
- O quê? Nunca vi-o antes desse ano, como pode
dizer uma coisa dessas? – Julieta começa a se irritar novamente, pois esperava
que o estranho, supostamente chamado Charlie, fosse mais claro.
- Bem, serei direto para que entenda. Houve um
tempo, há alguns anos atrás, em que fui declarado seu irmão, mas adotado, não
se assuste, por favor. Acontece que isso não foi coincidência, havia um
objetivo em eu ser adotado. Quero dizer, um objetivo em me manter perto de sua
família. – Charlie gesticula com suas mãos, tentando fazer com que Julieta
entenda.
- Espera! Eu não vim até aqui para você me
confundir mais ainda. O que isso esclarece toda a confusão que você causou até
agora? – Julieta se exaspera.
- Calma, estou
tentando contar a história desde o início. É complicado, por favor... – Charlie
não sabe o que dizer para fazer com que ela lhe escute. - Vamos fazer assim,
posso contar toda a história e só depois você faz suas perguntas? Está bem?
- Então comece
logo!
- Tudo começou
quando seu pai me procurou em 5 de novembro 1997. Eu tinha 10 na época, mas era
considerado um prodígio, e por isso, participava de vários experimentos e
cooperava com novos descobrimentos científicos. Como você sabe, seu pai era
muito sigiloso em seu trabalho, e com razão. Ele estava muito nervoso, naquele
5 de novembro, acho que, finalmente, ele havia descoberto algo extraordinário,
mas que colocaria todos nós em graves problemas. Ele havia pedido para que eu
fosse com ele até sua casa, e que precisava de um grande favor. Quando eu
indagava-o em busca de informações do que se tratava todo esse mistério, ele
respondia com evasivas, como se tivesse medo de revelar a verdade. Por fim,
aceitei em vir até sua casa. Você e sua mãe estavam no jardim plantando
pequenas mudas de alguma planta. Você tinha 4 anos e estava uma sujeira. –
Charlie olha para Julieta com um sorriso debochado, e vê que ela está longe
dali, em uma data e local diferentes.
- Bem, acontece que seu pai apresentou-me para
vocês naquele mesmo dia, e mais tarde, quando finalmente ficamos em uma sala
reservada, ele explicou-me que pretendia me adotar para proteção de sua
família, caso eu concordasse. Eu insisti veementemente para que ele deixasse-me
a par de tudo o que estava por trás dessa proposta de adoção, lembro-me de
hesitar por um longo tempo, com medo por não saber onde estava me metendo. Mas,
por fim, ele me revelou a verdade, e disse-me para guarda-la apenas para mim:
“não se esqueça, Charlie, do que as pessoas são capazes de fazer para que a
verdade não se espalhe!” Foi o que ele disse antes de sairmos da sala e irmos
jantar. – Charlie reduz a velocidade do
carro, e espera o semáforo, enquanto Julieta, repentinamente tenta lembrar-se de suas
próprias lembranças.
- Não lembro-me muito bem, não consigo
lembrar-me de ti. Mas, apesar disso, já escutei essa frase antes, meu pai costuma
me alertar sobre o valor da verdade, tenho a impressão que ele disse exatamente
da forma como você disse agora. – Julieta, de repente lembra-se de outra coisa:
- Hei! Você... você é o cara da foto não é mesmo? Aquela foto em que estou na
sacada da casa de minha avó segurando a mão de alguém, mas a foto está rasgada,
não dando para reconhecê-lo. – Charlie
faz uma afirmativa com a cabeça enquanto acelera o carro, e Julieta fica
absorta por um tempo em seus próprios pensamentos.
- Agora faz sentido. – Julieta olha para ele de
forma estranha- Só se você realmente fizesse parte da minha infância para ter
aquela gravação de mim e minha mãe cantando Hey Jude. Mas como posso não
lembrar-me de ti? Além disso, preciso pedir, mas por que fez tudo o que fez
comigo até agora, se você era alguém de valor para mim? Porque invadiu minha
casa? Porque pôs fogo na floresta? Porque arranhou meu carro? Pois foi você não
foi?– Julieta pergunta nervosa e embaraçada.
Charlie fica quieto por um longo tempo,
refletindo, e Julieta espera pacientemente por mais explicações. O carro é
estacionado, e Julieta vê pela janela a porta de algum restaurante
desconhecido. Antes de qualquer movimento, Charlie tira uma carta do bolso de
sua jaqueta e entrega-a em silêncio para Julieta.
- Esta é a carta perdida. Tive medo que os
policiais a lessem, foi um deslize meu deixar que eles encontrassem ela, pois era
destinada à você, e apenas você deve lê-la, após isso, peço que a queime.
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