Capítulo 3
E se tudo o
que meu pai tinha me dito antes de morrer for realmente verdade? Não havia
sentido na época, mas agora. Bem, agora continua não havendo. Lembro-me do
reflexo do óculos de meu pai, enquanto ele me falava apreensivamente:
...
- Você sabe
por que é feriado o 5 de novembro, não sabe?
- Sei sim
pai, o senhor vive me lembrando. – Falo, enquanto brinco com meu lego.
- É, mas é importante.
Você entenderá. Não se esqueça do que as pessoas são capazes de fazer para que
a verdade não se espalhe. Olhe para mim. – Diz ele, virando meu rosto para o
dele.
- Tudo bem,
pai. Fawkes foi decapitado por ter lutado pelo o que acreditava. Por que me
fala dessa forma urgente?
...
Julieta
esfrega os olhos de lágrimas secas. Procura o celular no bolso, acha a foto. Quando foi tirada essa foto? Como poderia
não me lembrar de quem estava ao meu lado? Haveria de ser a árvore da antiga
casa de minha avó aquela ali mais atrás? É parecida. Mas de quem é esta mão que aperta a minha? -
Gina se move adormecida. Julieta esfrega a cabeça tentando esquecer-se de tudo,
e guarda a foto no bolso novamente.
Inquieta,
desce delicadamente da cama para não acordar sua amiga e vai até a cozinha para
tomar um copo de água. O relógio marca 5:00 horas. Olha para fora pela janela,
em direção do centro da cidade, adormecida ainda. Recosta-se no balcão por
alguns minutos, sem saber o que faz de pé a essa hora da madrugada. Lembra-se
de repente, que apesar de tudo, há um livro a ser escrito. Desanima-se por não
ter escrito mais que umas poucas páginas. Não
estava com cabeça para isso e ainda não
estou. Levanta-se e caminha pela casa em busca de algo. Vai até a sala.
- Carl –
Fala baixinho Julieta, sem querer acordar. Na verdade, querendo acordar, mas
sem coragem, pois entende que isso talvez fosse visto de um modo errado por
ele.
- Sinto
falta da sua companhia, ás vezes, sabe? – Continua falando sozinha. Decide
sentar-se no único espaço vazio do sofá. E ali passou boa parte da madrugada
olhando-o. O que estou fazendo aqui?
.
– Poderia ter dado certo, você sabe. Mas, eu
tinha que seguir meu sonho caramba. Se você tivesse entendido, mas não. –
Olha-o fungar, e virar-se no sofá pequeno de mais. – Bem, o que você fez depois não explica-se
de qualquer forma.
Julieta levanta-se
e decide sair para caminhar ao ar livre agora que já estava mais claro. Quando
passa pela porta, não agüenta-se e começa a correr. Corre no asfalto dessa vez.
Corre com os olhos fechados. Corre até os joelhos falharem e as pernas estarem
bambas, sente vontade de continuar por muito mais. Sente vontade de nunca mais
precisar parar de correr. Vontade na verdade, de deixar tudo para trás. Boa parte eu já deixei. Percebe que
estava a ponto de começar a chorar outra vez. Mas não era isso o que queria,
ela queria gritar. Berrar e bater em alguma coisa. Dá onde surgiu tanta raiva? Só que não era raiva, era impotência.
Lembrou-se que na sua vida inteira, enquanto todas as pessoas a admiraram por
sua independência, ela sabia a verdade. Ela sabia que tudo o que
conquistou já fora lhe dado por seus pais antes de morrerem, até mesmo seu
sustento- e agora, ela desconfiava que havia algum tipo absurdo de ligação -. Tudo planejado, é claro. E cada palavra que diziam indicava que
eles também sabiam o que aconteceria em seguir. Você confiou em mim pai, mas não entendo. Você me avisou que isso
aconteceria, mas não há sentido. – Não é
necessário.
- JULIETA!!!
– Quem? Carl, o quê é? Julieta abre
os olhos e percebe que vê apenas as nuvens cinza lá em cima, tenta virar-se em
direção do chamado, mas sua visão está turvada.
- Juli, você
está bem? Ela está tremendo Carl! – Gina fala estranhamente. Porque
ela está tão grande?
-Vamos Juli, levanta. O que aconteceu? Deixa eu te ajudar. – Fala Carl apressado,
levantando Julieta do chão nos braços.
- Não, hei! –
Julieta reage, lentamente e meia inconsciente. – Espera. – Carl solta Julieta, e ela desengonçada se equilibra
novamente, sentindo suas pernas em brasa, apóia-se em Gina.
- O que
aconteceu? – Pergunta Carl novamente.
- Só queria correr.
Não lembro, estava cansada. Não sei. Por favor, vamos sair daqui, me sentirei
melhor.– Ambos lançam olhares preocupados para Juli, mas fazem como ela diz,
afinal o que iriam fazer no meio da rua, não é?
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