23 de junho de 2013

Capítulo 3
E se tudo o que meu pai tinha me dito antes de morrer for realmente verdade? Não havia sentido na época, mas agora. Bem, agora continua não havendo. Lembro-me do reflexo do óculos de meu pai, enquanto ele me falava apreensivamente:
...
- Você sabe por que é feriado o 5 de novembro, não sabe?
- Sei sim pai, o senhor vive me lembrando. – Falo, enquanto brinco com meu lego.
- É, mas é importante. Você entenderá. Não se esqueça do que as pessoas são capazes de fazer para que a verdade não se espalhe. Olhe para mim. – Diz ele, virando meu rosto para o dele.
- Tudo bem, pai. Fawkes foi decapitado por ter lutado pelo o que acreditava. Por que me fala dessa forma urgente?
...
Julieta esfrega os olhos de lágrimas secas. Procura o celular no bolso, acha a foto. Quando foi tirada essa foto? Como poderia não me lembrar de quem estava ao meu lado? Haveria de ser a árvore da antiga casa de minha avó aquela ali mais atrás? É parecida. Mas de  quem é esta mão que aperta a minha? - Gina se move adormecida. Julieta esfrega a cabeça tentando esquecer-se de tudo, e guarda a foto no bolso novamente.
Inquieta, desce delicadamente da cama para não acordar sua amiga e vai até a cozinha para tomar um copo de água. O relógio marca 5:00 horas. Olha para fora pela janela, em direção do centro da cidade, adormecida ainda. Recosta-se no balcão por alguns minutos, sem saber o que faz de pé a essa hora da madrugada. Lembra-se de repente, que apesar de tudo, há um livro a ser escrito. Desanima-se por não ter escrito mais que umas poucas páginas. Não estava  com cabeça para isso e ainda não estou. Levanta-se e caminha pela casa em busca de algo. Vai até a sala.
- Carl – Fala baixinho Julieta, sem querer acordar. Na verdade, querendo acordar, mas sem coragem, pois entende que isso talvez fosse visto de um modo errado por ele.
- Sinto falta da sua companhia, ás vezes, sabe? – Continua falando sozinha. Decide sentar-se no único espaço vazio do sofá. E ali passou boa parte da madrugada olhando-o. O que estou fazendo aqui? .
 – Poderia ter dado certo, você sabe. Mas, eu tinha que seguir meu sonho caramba. Se você tivesse entendido, mas não. – Olha-o fungar, e virar-se no sofá pequeno de mais.  – Bem, o que você fez depois não explica-se de qualquer forma.
Julieta levanta-se e decide sair para caminhar ao ar livre agora que já estava mais claro. Quando passa pela porta, não agüenta-se e começa a correr. Corre no asfalto dessa vez. Corre com os olhos fechados. Corre até os joelhos falharem e as pernas estarem bambas, sente vontade de continuar por muito mais. Sente vontade de nunca mais precisar parar de correr. Vontade na verdade, de deixar tudo para trás. Boa parte eu já deixei. Percebe que estava a ponto de começar a chorar outra vez. Mas não era isso o que queria, ela queria gritar. Berrar e bater em alguma coisa. Dá onde surgiu tanta raiva? Só que não era raiva, era impotência. Lembrou-se que na sua vida inteira, enquanto todas as pessoas a admiraram por sua independência, ela sabia a verdade. Ela sabia que tudo o que conquistou já fora lhe dado por seus pais antes de morrerem, até mesmo seu sustento- e agora, ela desconfiava que havia algum tipo absurdo de ligação -. Tudo planejado, é claro. E cada palavra que diziam indicava que eles também sabiam o que aconteceria em seguir. Você confiou em mim pai, mas não entendo. Você me avisou que isso aconteceria, mas não há sentido.  – Não é necessário.

- JULIETA!!! – Quem? Carl, o quê é? Julieta abre os olhos e percebe que vê apenas as nuvens cinza lá em cima, tenta virar-se em direção do chamado, mas sua visão está turvada.
- Juli, você está bem? Ela está tremendo Carl! – Gina fala estranhamente. Porque ela está tão grande?
-Vamos Juli, levanta. O que aconteceu? Deixa eu te ajudar. – Fala Carl apressado, levantando Julieta do chão nos braços.
- Não, hei! – Julieta reage, lentamente e  meia inconsciente. – Espera. – Carl solta Julieta, e ela desengonçada se equilibra novamente, sentindo suas pernas em brasa, apóia-se em Gina.
- O que aconteceu? – Pergunta Carl novamente.
- Só queria correr. Não lembro, estava cansada. Não sei. Por favor, vamos sair daqui, me sentirei melhor.– Ambos lançam olhares preocupados para Juli, mas fazem como ela diz, afinal o que iriam fazer no meio da rua, não é?

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